Objetivo Principal

O objetivo deste blog é construir e compartilhar experiências em Educação Musical para crianças. A ideia principal é estabelecer um repertório de músicas escritas especialmente para crianças, seus autores e os meios materiais de sua origem.



sábado, 8 de fevereiro de 2014

CANÇÕES PARA CRIANÇAS

          Estava lendo uma revista e gostaria de compartilhar um artigo dela com vocês. A revista chama-se "Música & Linguagem" e foi uma publicação especial da revista "Língua" da editora Segmento. Esta edição data de 2010 e o editor foi Edgard Murano. Andei pesquisando no site da revista e no site da editora, porém não encontrei referências à revista, nem sua versão online, a não ser esta nota do editor em seu blog:  http://edgardm.wordpress.com/2010/11/22/o-texto-musical/



          Os artigos são bons e muito interessantes. Nesta postagem gostaria de destacar o artigo de Guilherme Bryan intitulado "Canções para Crianças".
          Neste artigo, o autor fala de grandes compositores que aceitaram o desafio de escrever as letras para músicas infantis, traçando uma pequena linha histórica que tem início na década de 40, quando o Braguinha ou João de Barro resolveu criar a coleção Disquinho. Reunindo as histórias clássicas infantis, a coleção também traz novas histórias, todas elas recheadas de canções de João de Barro, que se tornaram inesquecíveis como: "Pela Estrada", de Chapeuzinho Vermelho, as músicas de "Festa no Céu", da "História da Baratinha" ou ainda de "A Cigarra e a Formiga".
          Em 1977 foi lançado o disco "Os Saltimbancos", adaptação de Chico Buarque do conto "Os Músicos de Bremen". A "Arca de Noé" de Vinicius de Moraes foi lançado em 1980. Os próximos anos foram marcados pelos trabalhos de Toquinho, como "Casa de Brinquedo", Edgard Poças, responsável pelas canções da Turma do Balão Mágico, Guilherme Arantes, com "Lindo Balão Azul" e até mesmo Raul Seixas, com "Carimbador Maluco".
          Os anos 90 trouxeram compositores como Paulo Tatit, Sandra Peres, Hélio Ziskind e Tim Rescala. Compositores como Adriana Calcanhoto e Oswaldo Montenegro também vieram fazer parte deste time. (Gostaria de dizer que estes compositores foram citados no artigo, por isso estou me referindo à estes nomes no momento.)
          O que mais me chamou atenção no artigo, foram os depoimentos desses compositores quando questionados sobre suas músicas e letras, e o desafio de compor para o público infantil. Repasso alguns deles, extraídos diretamente do artigo.


          "As Arcas de Noé, com Vinicius, contêm a poesia primorosa e lúdica do poeta. Com Mutinho (Casa de Brinquedos), os brinquedos adquirem vida, em metáforas diretas e comparações divertidas. E, com Elifas (Andreato), fiz canções muito criativas, cuja essência nasceu dos pragmáticos Direitos da Criança ("Canção de Todas as Crianças"), que se transformaram em histórias cheias de bom humor e cidadania." Toquinho.
" O que deve predominar é a simplicidade, com palavras diretas e objetivas, sem subestimar a capacidade de compreensão da criança. O tema tem de interessar a criança, que deve se sentir atraída pelo enredo das canções, sem se assustar, nem se enjoar. Palavras complicadas devem ser excluídas e priorizadas aquelas que contêm uma sonoridade adequada à melodia. A criança praticamente exige a diversão, a singeleza e a integridade das ideias. Ela percebe imediatamente o que é falso e comprometido com a desordem temática". Toquinho.



"Quando eu e a Sandra fazemos letras como "Pé com Pé"  ou "Bolacha de Água e Sal", sempre submetemos a pessoas com mais tarimba para ver se não há uma ou outra palavra que fique melhor. Lembro-me de várias trocas de palavras na canção "Eu", de minha autoria, feitas ora pelo Arnaldo Antunes e ora pelo meu irmão José Tatit, que é outra pessoa ligada na boa apropriação das palavras." Paulo Tatit.
"A criança tem um vasto mundo interior a ser explorado. Na parte da forma, é preciso ser lúdico, fazer uma letra que brinque com as palavras, uma melodia que tenha uma graça qualquer, um ritmo contundente. Acho difícil que um ritmo mais suingado, como o samba, interesse às crianças de 10 anos. Não sei bem por quê, mas isso acontece. Ou seja, há coisas específicas para crianças, que precisam ser identificadas e trabalhadas. É muito comum ouvirmos uma canção feita para crianças cuja letra comenta o mundo infantil, mas de fora. Normalmente, essa canção não serve para criança e, sim, para o adulto recordar sua infância" Paulo Tatit.


"Para mim, é um valor falar corretamente, ter gosto em usar as regências corretas, ou seja, tratar a língua com carinho. Mas, quando a norma culta soa esquisita, eu me afasto dela. Procuro aproximar as palavras pela sonoridade, pelo ritmo que causam. O texto pode ser longo, e crianças decoram letras enormes, mas o estilo tem de ser sintético." Hélio Ziskind.
"Há um avanço e um grande interesse pela música para crianças. A música está presente nas escolas, mesmo quando não há professores especializados. Há muito mais lojas de instrumentos, e se grava com mais facilidade. Vejo que o meu trabalho e o da Palavra Cantada se expandem. O CD da Adriana Partimpim chegou até a tocar em rádios, coisa que há tempos não acontecia com uma canção infantil. Mas há também o avanço das canções que propõem um erotismo precoce e dos programas de calouros, em que as crianças são conduzidas a serem imitações de adultos em miniatura. Não dá para ter um julgamento único, mas já é uma felicidade ver que músicas distintas conseguem florescer." Hélio Ziskind.


 " A questão da linguagem é crucial. Sem ganchos adequados, não cola. Com criança, o que conta é a forma de dizer as coisas. Aí é que está o talento. É preciso oferecer figuras palatáveis para as crianças e jamais sugerir regras. Trabalhar com a liberdade, pois a criança funciona na intuição e não no raciocínio." Guilherme Arantes.
"Para o público, em geral, você pode "ser infantil". Para a criança, jamais. Criança não quer papo infantil, pueril. Criança quer criatividade pura, mas com sugestão de crescimento, de mundo grande." Guilherme Arantes.




"Ele cantava para ver minha reação. Se eu ficasse contente, seguia em frente. Se não, mudava o que tinha feito. Ele também gostava de inventar palavras, que eu achava engraçadas. E chegava até a mudar o rumo das histórias de acordo com o que eu queria, como, por exemplo, tirar a avó da barriga do lobo em Chapeuzinho Vermelho - recorda Maria Cecília." Sobre Braguinha, Maria Cecília Braga de Araújo Góes, sua filha.






"No trabalho para o público em geral, minha única preocupação é desabafar, ser verdadeiro e que eu goste. A arte para o adulto não tem compromisso com a lógica e nem compromisso político ou filosófico. A arte para o adulto é feita, e deve ser feita, de maneira livre, carregando a bandeira da liberdade total. Já para a criança, a gente tem de tomar um cuidado absoluto." Oswaldo Montenegro.




"A criança absorve com muito mais rapidez qualquer proposta artística, o que é bom, a princípio, mas pode ser perigoso. Afinal, a disponibilidade auditiva da criança fica à mercê de tudo". Tim Rescala.




Transcrevi estes depoimentos de grandes compositores retirados do artigo de Guilherme Bryan. Acredito que serão úteis para nós, educadores musicais e pessoas interessadas em música para crianças. Aprender com quem tem experiência e faz sucesso é muito bom!









Falando de Rosas

Estava procurando uma cantiga para as crianças dançarem na festa junina da escolinha. Esta música é uma graça e neste arranjo ficou melhor ainda. Apreciem!