Quando pensei no dia das Mães, na escolinha onde trabalho, resolvi falar sobre o ovo. Já tínhamos trabalhado com ovos por ocasião da Páscoa e, pela proximidade das datas, achei interessante continuar com o mesmo assunto, assim poderíamos explorar mais o tema com as crianças.
Mas por que o ovo?
Comecemos por ler um trecho do lindo poema de João Cabral de Melo Neto, "O Ovo da Galinha":
...
No entanto, se ao olho se mostra
unânime em si mesmo, um ovo,
a mão que o sopesa descobre
que nele há algo suspeitoso:
unânime em si mesmo, um ovo,
a mão que o sopesa descobre
que nele há algo suspeitoso:
que seu peso não é o das pedras,
inanimado, frio, goro;
que o seu é um peso morno, túmido,
um peso que é vivo e não morto.
inanimado, frio, goro;
que o seu é um peso morno, túmido,
um peso que é vivo e não morto.
...
No entretanto, o ovo, e apesar
de pura forma concluída,
não se situa no final:
está no ponto de partida.
de pura forma concluída,
não se situa no final:
está no ponto de partida.
...
Lindo, não? Para ler o poema na íntegra consulte o endereço:
http://releituras.com/joaocabral_oovo.asp
Pesquisei vários livros de literatura infantil e muitas músicas e escolhi este livro do escritor Ângelo Machado - "Que bicho será que botou o ovo?" pela simplicidade do texto e por ser capaz de instigar a curiosidade das crianças pequenas.
Ao apresentar o livro para as crianças começamos a falar sobre os bichos que botavam ovos, alguns muito conhecidos, outros nem tanto. Foi possível fazer uma pesquisa com elas sobre os animais: como são seus ovos (grandes, pequenos, de casca mole, dura), onde eles costumam botar os ovos e como cuidam dos filhotes quando nascem.
Ao ler um pouco sobre o autor do livro, descobri que ele queria mesmo, através de seus livros, ensinar biologia e ciência para as crianças. Que homem interessante este Ângelo Machado! Mineiro de Belo Horizonte, nasceu em 1934. Formado em Medicina, especializou-se em neurobiologia e entomologia, escreveu mais de cem artigos científicos sobre o tema, descreveu 48 novas espécies e quatro gêneros de libélulas, bicho pelo qual tem paixão desde os 15 anos de idade. Trabalha como ambientalista e preocupa-se com as espécies ameaçadas de extinção.
No entanto, há mais de 20 anos, descobriu uma outra habilidade, ou seria vocação? Escrever para crianças. Primo de Maria Clara Machado, seu primeiro livro "O Menino e o Rio" foi devolvido pela editora que alegava que este não serviria como literatura, pois ensinava muitas coisas, e nem mesmo como ecologia, pois os bichos da história falavam... Incentivado por um amigo, publicou o livro pela editora Lê e logo se tornou um sucesso.
Segundo Ângelo Machado um bom livro infantil tem que ter história, aventura e humor. Ele disse, em uma entrevista, que o escritor de literatura infantil é mais importante que o de literatura para adultos porque:
"Se os meninos não aprenderem a gostar de ler livros infantis, nunca lerão os livros de literatura para adultos. Se um adulto lê um livro e não gosta, ele deixa de lado e procura outro. O menino fecha o livro e não lê nunca mais."
A coleção "Que Bicho Será?" é considerado pelo autor como a coisa mais importante que fez na vida. Segundo ele, os cinco livros da coleção apresentam problemas que preocupam os personagens e desenvolvem nas crianças, que estão descobrindo como é o mundo e para que servem as coisas, a curiosidade, que é a principal motivadora da pesquisa científica. Outra coleção escrita pelo autor é "Gente Tem, Bicho Também".
O livro "Que Bicho Será que Botou o Ovo?" foi ilustrado por Roger Mello, autor de belíssimos livros-imagem e primeiro brasileiro a vencer o prêmio Hans Christian Andersen na categoria ilustração em 2014.
Algumas outras obras de Ângelo Machado: "O Boto e seus Amigos", "Chapeuzinho Vermelho e o Lobo-Guará", "O Esquilo Esquecido", "O Livro do Pé", "O Menino e a Rã", "A Outra Perna do Saci", "O Rei Careca", "A Viagem de Tamar, a Tartaruga Verde do Mar", "A Mula com Cabeça", entre outros.