Aproveitei as férias para ler um livro muito bom: "Parlenda, Riqueza Folclórica - Base para a Educação e Iniciação à Música" de Jacqueline Heylen.
Não consegui encontrar muitas informações sobre a autora, a não ser um pequeno texto escrito na aba do seu livro. Jacqueline Heylen nasceu na Bélgica. Formada em Música, com especialização em pedagogia musical, veio para o Brasil em 1961. Professora de Artes Plásticas e Música, editou o disco "Alegria de Natal" com músicas de sua autoria. Fundou em 1971 a Escola Livre de Arte "Movimusicart", publicou os cadernos "Dó Ré Mi Fá da Música", onde propõe um trabalho de iniciação musical através do ritmo de palavras e frases: quadrinhas e parlendas. Atuou como professora universitária na área de música e folclore no Centro de Artes e Faculdade de Música da Universidade de Ribeirão Preto, São Paulo.
A autora define Parlenda como "conjunto de palavras de arrumação rítmica em forma de verso que rima ou não" e "forma recitativa que distingue-se dos versos pela atividade que acompanha: jogo, brincadeira ou movimento corporal".
As parlendas são expressão linguística de transmissão oral, de domínio público que expressam a maneira de pensar, sentir e agir de um povo. Segundo a autora a linguagem das parlendas é simples e dá prioridade à massa sonora e rítmica, sendo que a palavra está em função da cadência.
Quando uma criança recita uma parlenda ela adquire prática na audição e execução dos sons falados, aprende a entoação dos fonemas, vocábulos, palavras e frases, se exercitando na prosódia.
A dinâmica das parlendas depende do metro e do ritmo de cada uma delas. Isso pode variar conforme a função da parlenda. A parlenda "Bãobalalão", muito usada para embalar uma criança, utiliza, com mais frequência, a divisão ternária dos tempos. Parlendas usadas como fórmula de escolha, como "Lá em cima do piano", apresentam uma marcação rítmica acentuada e regular. Algumas parlendas têm ritmo livre como "A baratinha voou, voou" e outras apresentam ritmo compassado, geralmente em compassos binários, simples ou compostos.
As parlendas estão intimamente ligadas ao movimento corporal. Este movimento pode acontecer desde o ato de apontar os participantes da brincadeira, até as mais variadas movimentações:
- movimento de bater palmas: "Eu com as quatro".
- movimento dos dedos: "Dedo Minguinho".
- movimento de apontar: "Uni, duni, te".
- movimento com coreografia: "Bom barqueiro, bom barqueiro".
- movimento de andar, correr, abaixar, puxar e pular: "Agá, agá, a galinha quer botá".
- equilíbrio corporal: "Borboleta, leta, leta".
As parlendas podem ser recitadas com ondulações de voz, com variação de altura, formando uma melodia. Nestes casos é comum que os intervalos não ultrapassem às terças. Isto faz com que as parlendas apresentem semelhanças com melodias primitivas e também com as melodias do canto gregoriano. Temos o exemplo do "Serra, serra, serrador."
Vários jogos tradicionais são ligados às parlendas, onde o ritmo das palavras propõe ordem física, mental e social ao jogo. Temos parlendas para brincadeiras como:
- Pega-pega: "Limão galego, relou, tá pego".
- Lenço atrás: "Corre cutia".
- Esconde-esconde: "Balança, caixão".
- Cabra-Cega: "- Cabra cega. - Inhá. - D'onde vem? - Do mundê."
- Execução de tarefas: "Bente que bente o frade!"
- Jogo de bola: "Lá vai a bola".
- Pular corda: "Batatinha frita".
- Brincar de estátua: "Duro, mole".
- Jogo de memória: "Categoria".
Observem esta frase de Carl Orff, músico, compositor e educador alemão:
"consideramos o exercício de prosódia a base de qualquer Educação Musical, tanto rítmica como melódica. Os exercícios de prosódia facilitam a aprendizagem dos ritmos binários, dos ternários, dos anacruses e das mudanças de compasso. Também bater palmas e praticar exercícios de direção combinados com exercícios de prosódia, ajudam a aprender a notação musical."
Como Jacqueline Heylen afirma no título de seu livro as parlendas podem ser a base para a Educação Musical. Através dos jogos e do movimento a criança sente o ritmo, o acento e a pulsação. Ao cantar uma parlenda ela alterna os sons agudos e graves. Além disso o jogo com parlendas favorecem que as crianças aceitem regras e estabeleçam normas de modo espontâneo. Despertam sentimentos de brandura, paciência, união, ordem e disciplina.
Parlendas falam de locais, cidades e ambientes. Trazem personagens representativos da vida das crianças, são expressões do povo. Trazem distração, diversão e recreação. São expressões do folclore e trazem a marca de sabedoria do povo.
Nas escolas as parlendas trazem informações, desenvolvem a memorização, ensinam cores, o alfabeto e os números, por exemplo.
Segundo ainda a autora, as parlendas têm:
- valor cultural - são manifestação do povo.
- valor folclórico - pertencem à linguagem oral.
- valor histórico - transmitem a tradição de geração em geração.
- valor educacional - são importantes na evolução e desenvolvimento da criança.
- valor musical - pelo alto teor rítmico e ondulação vocal, apoiado na cadência poética e ritmo do movimento.
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