Teca Alencar de
Brito é mestre e doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP.
Estudou Educação Artística e piano, dedicando-se à educação
musical desde 1974. Dirige as atividades da TECA - Oficina de Música
em São Paulo, escola voltada à formação musical de crianças,
adolescentes e adultos.
Produziu vários CDs que documentam seu
trabalho como "Canto do povo daqui" e "Cantos de
vários cantos", publicou livros como: "Koellreutter
educador - o humano como objetivo da educação musical" e
"Música na educação infantil - propostas para a formação
integral da criança". Foi relatora do Documento de Música
integrante do Referencial Curricular Nacional para a Educação
Infantil, publicado pelo MEC, em 1998.
Considero Teca uma das mais influentes educadoras musicais brasileiras dos dias de hoje. A
autora busca, em primeiro lugar, compreender e respeitar a produção
musical infantil, priorizando a exploração, os gestos, a criação
e a improvisação. Segundo ela "um
projeto de educação musical deve considerar a música como sistema
dinâmico de interações e relações entre sons e silêncios no
espaço-tempo, entendendo que o processo de musicalização
caracteriza-se pela construção de vínculos com essa linguagem".
Nas
referências bibliográficas de suas publicações encontramos a
citação de autores como Esther Beyer, John Cage, François
Delalande, Hans-Joachim Koellreutter, Murray Schafer e Keith
Swanwick.
Atuando como educadora durante muitos anos, Teca considera-se uma
pesquisadora. Através de seus livros e artigos podemos perceber que
a autora busca, constantemente, analisar e refletir sobre o modo como
as crianças aprendem e fazem música, e qual é o significado que
este fazer musical tem em suas vidas.
Teca destaca que somos seres musicais, que a música é importante
para nossa vida e por isso deve fazer parte do currículo das
escolas. Nada mais simples!
"O fazer musical é um modo
de resistência, de reinvenção (questões caras ao humano, mas
ainda pouco valorizadas no espaço escolar) que, ao mesmo tempo,
fortalece o estar juntos, o pertencimento a um grupo, a uma cultura.
O viver (e conviver) na escola - espaço de trocas, de vivências e
construção de saberes, de ampliação da consciência - deve,
obviamente, abarcar todas as dimensões que nos constituem, incluindo
a dimensão estética."
(TECA, Ferramentas com Brinquedos - A Caixa de Música)
Através de brincadeiras, do jogo e da exploração de materiais
sonoros, as crianças têm a oportunidade de aprender aspectos
musicais ligados às propriedades do som, ao ritmo e a forma musical.
Cada criança relaciona-se com o sonoro de sua maneira. Através da
experimentação, a criança percebe, observa os diferentes materiais
sonoros, quais são as possibilidades de produção de som
resultantes desta exploração. Pesquisa os gestos, os movimentos,
imita modelos e se encaminha para o aprendizado.
Ao professor cabe conhecer seus alunos, entendendo como eles se
relacionam com o som, o que pensam sobre música, evitando a
padronização. Segundo Teca (em seu texto - Por uma educação musical do pensamento: educação musical menor):
"Propondo a adoção de um
projeto curricular circular, móvel e flexível, H-J Koellreutter
sugeria que os conceitos fossem trabalhados em contexto, atendendo às
questões, dúvidas ou curiosidades dos alunos e alunas, durante a
realização de atividades como jogos de improvisação, por exemplo.
Desse modo, ele acreditava que seria possível criar planos de uma
efetiva integração entre teoria e prática, entre fazer e
refletir."
A educação musical deve priorizar a criação, a experimentação,
a escuta criativa, crítica e transformadora, a diversidade da música
de outros lugares e povos, as paisagens sonoras, o canto, a dança, o
improviso e a produção de material sonoro.
Em seu livro "Música na Educação Infantil", Teca
ressalta que o fazer musical ocorre "por meio de dois eixos -
a criação e a reprodução - que garantem três possibilidades de
ação: a interpretação, a improvisação e a composição".
Segundo Teca (em seu texto - Cenas Musicais I - A Música do Sombra):
"Com as crianças, importa
garantir a possibilidade de exercitarem sua relação com o mundo.
Através dos sons podem expressar seu modo de perceber, sentir,
pensar... Podem vivenciar questões significativas, importantes em
sua vida, ... , já que a música é linguagem que torna sonora nossa
própria Forma - quem somos, como percebemos, como sentimos.
Fazendo música somos mágicos,
intuitivos, emocionais.
Somos racionais e intelectuais.
Presentificamo-nos por inteiro, numa vivência simbólica profunda e
integradora.
Com crianças, basta conhecê-las
e respeitá-las: respeitar sua percepção, sua cultura e as
características próprias de cada fase de seu desenvolvimento, sua
realidade, seu contexto social."
Todos os textos citados acima são facilmente encontrados nas edições da revista da ABEM e através do site: http://www.atravez.org.br